MONSTER MAGNET
Publicado na Planeta Stoner em 200...e-alguma-coisa. Não atualizei o texto. Ele vai até o álbum God Says No.
Era uma vez nos anos 70, em Nova Jersey - EUA, um rapaz chamado Dave Wyndorf. Entre suas brincadeiras de adolescente estavam: gibis (certa vez chegou a trabalhar numa loja de revistas em quadrinhos e afins) e muitas drogas. Seu primeiro verdadeiro contato com a música se deu com o nascente, e crescente, movimento punk rock nos EUA. Tocou em vários conjuntos locais, mas nada com algum destaque em especial. Apenas diversão.
De 1977 a 1984, fez parte do Shrapnel, junto com Daniel Rey (depois produtor dos Ramones) e com Phil Caivano, que mais tarde viria a ser o terceiro guitarrista do MM.
O Shrapnel pode ser descrito como: um negócio glam-pop-horroroso... músicas sem graça que evocavam a pior new wave - pós-punk. Lançaram um EP, pela Elektra Records, em 1984 auto-intitulado. Obviamente que não vingou...
Na mesma época, o artista-subversivo John McBain criava o Pinque Phloid (depois Dog Of Mystery). Um grupo típico das escolas de arte. Muito som cabeça, onde o principal era a "mensagem" e não a música. Fazia parte desta banda, Tim Cronin, que também participaria depois do MM como o "homem dos barulhos e viagens" nos discos da banda. Mais tarde, Dave Wyndorf juntou-se ao Dog. Porém, a rapaziada trocava de nome e de membros como quem pisca o olho. Até que, em um chegado momento, a coisa estabilizou, com um velho amigo de Tim, Jon Kleiman (bateria) e Joe Calandra (baixo). Dave Wyndorf classificava toda a concepção musical do Dog Of Mystery nas seguintes palavras: "A idéia era basicamente a de sermos a banda mais insuportável que alguém pudesse ouvir".
As primeiras composições sérias começaram a surgir. Logo foi lançado, já sob o nome MONSTER MAGNET (nome que veio de uma gravação feita por Dave sob o nome de Love Monster) o k7-demo "Forget About Life, I'm High On Dope" pela Circuit Records. Com uma resposta boa, por parte do público underground, vieram os EP's "Lizard Johnny/Freak Shop USA" (1989) e "Murder/Tractor" (1990). Um registro facilmente encontrável desta época é o mini-álbum lançado pela Glitterhouse em 1990, chamado "Monster Magnet", que contém todas estas faixas, mais "Snake Dance" e "Nod Scene (The Resin Scrapers)".
Por fim, a Caroline Records bancou a primeira experiência pra valer dos malucos de Nova Jersey, que resultou no magnífico "Spine Of God" em 1991. Este disco é um marco no chamado "space rock" ou "stoner rock". Definiu uma concepção musical até hoje muito copiada. Era uma época de vacas magras para o underground, pois bandas como o Poison, Warrant, Ratt, dominavam o gosto musical das massas. Quem gostaria de ouvir músicas prá lá de viajandonas como "Pill Shovel", "Ozium", "Medicine" e "Zodiac Lung"? Um dos grandes destaques deste disco é a cover do Grand Funk Railroad: "Sin's A Good Man's Brother".
Com inúmeros shows no circuito underground, o MM foi se consolidando como uma banda de peso no cenário musical emergente. Prova disso foi a série de shows com o Soundgarden, lembrados até hoje pelos integrantes do MM como "uma das melhores coisas que já aconteceram conosco".
Porém, nem tudo são flores... Após o último show da turnê com o Soundgarden, John McBain passa a régua e vai embora. Os motivos nunca ficaram bem claros. Parece até que o pessoal gosta mesmo é de brincar com quem se atrever a perguntar o motivo, pois já responderam de tudo, desde o famoso "divergências musicais", passando pela lavagem de roupa suja e pelo "amigos para sempre". O fato é que John McBain sempre foi um sujeito mais voltado para o lado artístico da música, enquanto Dave Wyndorf já dava sinais de quem gostaria de um pouco mais de "reconhecimento" ($), por parte do público e da mídia.
McBain caiu fora e levou um tempo até aparecer novamente com o projeto "Hater", na companhia de Ben Sheppard e Matt Cameron, ambos do Soundgarden. Lançaram em 1993 o álbum "Hater", pela A&M Records (gravadora que pegou o MM também). Bem mais tarde, juntou-se com Josh Homme e fizeram os primeiros volumes do Desert Sessions, bem como formou sua banda, o Wellwater Conspiracy, junto com Matt Cameron, que já lançou três discos (Declaration Of Conformity, The Brotherhood Of Electric e The Scroll And Its Combinations).
Voltando ao MM, Mr. Wyndorf tinha que pensar rápido para não ficar perdido na poeira do tempo. Lançaram o álbum "Tab..." pela Caroline Records já com um novo guitarrista. Ed Mundell, egresso da recém formada The Atomic Bitchwax, aceitou o cargo e se mandou em turnê com o MM.
Com o apoio dos sempre-amigos do Soundgarden, conseguiram um contrato com a sua gravadora, a A&M Records, e lançaram o seu primeiro disco com apoio de major, o grande "Superjudge", em 1993.
O segundo disco veio mais "traduzível" que o primeiro. Melhor produzido, não alcançou grande coisa em termos de "mercado-business", mas consolidou o nome da banda como um dos melhores shows para se ver. Foram feitos clipes para as músicas "Twin Earth" e "Face Down". Bem nesse momento, no meio da onda grunge, passaram desapercebidos, bem como seus bons amigos do Kyuss.
Os excessos dos integrantes garantia a reputação de sujos, loucos e malvados, mas não ajudava na sanidade mental de Dave Wyndorf. A banda chegou a acabar por alguns meses. Mr. Wyndorf estava exausto, voltou para casa e prometeu a si mesmo que não queira nunca mais fazer parte de uma banda de rock. Tolinho... pouco tempo depois já não aguentava mais ficar parado e chamou seus fiéis escudeiros para o disco que iria, finalmente, mudar o rumo das coisas.
Dave se trancafiou num quarto de hotel e compôs "Dopes To Infinity" (1995) inteiro. A partir deste momento, ele tomou as rédeas da banda, e é conhecido como o "benevolente-ditador" da banda desde então. Casa arrumada, o disco emplacou de cara com "Negasonic Teenage Warhead" (praticamente igual à Tales Of Brave Ulysses do Cream). Convites para programas de tv, rádio e muito assédio da mídia escrita, deram vida ao monstro de Dave Wyndorf. Grandes turnês em festivais ao redor do mundo, deram o tom desta vez.
De fôlego renovado, Wyndorf resolve se isolar novamente para criar mais um disco. Sofrendo apenas a pressão dos demais membros, que já não tinham mais dinheiro para comprar suas boletas, o álbum "Powertrip" saiu de uma viagem inusitada de Mr. Wyndorf. Por dois meses ele se meteu no Vietnam. Nada de rádio, nada de tv, nada de jornais, revistas; resultado: voltou logo aos EUA em busca de inspiração e encontrou as rádios tocando somente rap e pop da pior qualidade. Dizia ele"depois de ver no que a America se transformou comigo fora, tinha um compromisso de fazer o álbum mais rock do ano".
Concordando ou não, o fato é que "Powertrip" (1998), emplacou nas paradas americanas e européias, tornando o MM uma banda respeitável finalmente. Nesta época, a banda tocou junto com Hole e Marylin Manson ( na turnê que poderia se chamar 'Clash Of Egos', tamanho eram os barracos), Anthrax, Van Halen, sem falar nos festivais europeus como o Bizarre Festival na Alemanha, abrindo para Page & Plant. Tudo movido ao sucesso de "Space Lord" e "Powertrip", que conquistaram o público ávido por rock de qualidade.
Curiosidade: mais cínico que nunca, ao filmarem o clip de "Space Lord", Dave Wyndorf fez um clip de banda de rap. Muito colorido, muita mulher semi-nua dançando como cheerleaders, hedonismo total. A explicação vem de Mr. Wyndorf, o próprio: "o rock está perdendo espaço para o rap, pois estes artistas vivem sua música, enquanto o rock se tornou algo extremamente inofensivo e distante da garotada que está crescendo. Quem sabe assim, alguém preste atenção e volte aos braços do rock". Nesta mesma época, é chamado Phil Caivano (antigo amigo de Dave da época do Shrapnel) para participar como terceiro guitarrista, deixando Dave livre para enlouquecer nos shows com sua postura de "Rock Star".
Detalhes à parte, este foi o disco de maior sucesso comercial para a banda. Porém, o vento começou a mudar de direção. Uma cena crescente começava a ameaçar o som pesado em geral. Com influências industriais e techno, o nu metal surgia como a salvação do rock e do metal, segundo a crítica, nos idos de 2000. Inúmeras bandas se renderam às afinações baixas e calças de skatistas. O MM não demonstrava uma mudança radical de som desde Dopes To Infinity. E a música "Melt" apareceu deixando todos no limite da decepção e da indiferença. O MM não havia mudado nada do "Powertrip", mas havia incluído muitas influências modernas no seu som.
Mesmo com Dave falando que "God Says No" (2000/2001), marcava a volta da banda ao "space rock", os números e a reação dos fãs foram inversamente proporcionais aos desígnios marketeiros de Mr. Wyndorf. Não foi um fracasso. O disco contém ótimas músicas como "Heads Explode", as pesadas "Queen Of You" e "Doomsday", a loucaça "Gravity Well" e as rockeiras "Down In The Jungle" e "Kiss Of The Scorpion". Mas não foi o bastante para serem "despejados" da A&M Records, que ao mesmo tempo estava se dissolvendo.
Enquanto Dave tocava sozinho o MM, Ed Mundel juntava os trocados ganhos para ajudar na produção dos discos de sua banda, The Atomic Bitchwax, que lançou dois discos: "I" e "II", e encerrou as atividades em 2002 com o lançamento de "Spit Blood". Tim Cronin e Jon Kleiman, também dão sinal de vida-solo com o The Ribeye Brothers, que lançou recentemente o álbum "If I Had A Horse".
O MM neste exato momento está: sem gravadora confirmada, fazendo turnê pelos EUA e começando o processo de composição para um próximo disco que, provavelmente, só será lançado em 2003. O aperitivo do momento é a faixa "Live For The Moment", inédita, gravada para uma trilha sonora daqueles "vale-tudo" americanos. A música não acrescenta nada de novo ao som da banda, mas ainda dá a esperança aos fãs do MM, que esperam a volta de Dave, talvez completamente biruta, mas com um discaço embaixo do braço. Assim esperamos.
- Adicionais:
* Após a turnê de God Says No, Phil Caivano, Jon Kleiman e Joe Calandra caíram fora da banda. Jim Baglino (baixo) e Bob Pantella (bateria) assumiram os postos.
* Em 2004 o Monster Magnet lançou Monolithic Baby, um álbum bem melhor que seu antecessor.
* Um DVD ao vivo estava sendo cogitado para lançamento no final de 2005. Nada concreto até agora.
* O Monster Magnet está com as atividades suspensas desde janeiro, quando Dave Wyndorf sofreu uma overdose.
* Segundo a gravadora, até o final de 2006 deverá haver um novo cd da banda. Enquanto isso, foram relançados os primeiros discos com bônus e nova arte.
* Jon Kleiman e Tim Cronin seguem firmes no Ribeye Brothers. Lançaram em 2006 o cd Bar Ballads & Cautionary Tales, menos country e mais psicodélico e garageiros.
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