Back from the undead

Então, como todo músico de Porto Alegre, tenho uma queda colossal pelo trabalho do Fab Four, ou Os Quatro Cabeluos de Liverpool, ou, simplesmente, os The Beatles. A diferença para os demais porto "alegrinos" é que eu não tento/quero ser um deles... Enfim...

Foi com uma desconfiança descomunal que catei o tal "Love", disco de "remixes" dos Beatles para o Cirque Du Soleil (ou Cirque Du Semaforei, como diriam os Cassetas...). Minha opinião é que qualquer coisa que leve o nome deles atualmente só pode ser considerado caça-níquel, ou algo que o valha. Se vale uma dica minha, compre os discos originais dos caras e não essas invenções malucas que se têm notícia.

Mas é aí que o gato dá um pulo!

De cara, a informação que o lance todo foi capitaneado pelo próprio George Martin (para quem não sabe, o produtor dos Beatles), já me deixou meio, como direi, "cabreiro"... ele nunca havia se metido nas porcarias lançadas ao passar dos anos, a não ser em lançamentos realmente importantes deles (como o duplo bacana BBC Sessions e o Anthology - esse último apenas para fanáticos mesmo).

Segundo momento: Pego os nomes das músicas e vejo lá as "junções" "Drive My Car / The Word / What You're Doing", "Being For The Benefit Of Mr. Kite / I Want You (She's So Heavy) / Helter Skelter" e "Come Together / Dear Prudence / Cry Baby Cry", por ex. Hein?! Como assim? Ai, ai, ai...

Pois bem... não sei o que a crítica está achando desse álbum, mas sinceramente, gostei!! O resultado é um tanto inusitado e a produção esmerou-se em pôr brilho em passagens das músicas originais que passavam desapercebidas, bem como (aproveitando-se do vasto material de outtakes e as masters de estúdio) Sir George Martin pegou algumas das versões mais belas de algumas faixas, como "Because" (numa acapella de chorar)e "While My Guitar Gently Weeps" (apenas violão e cordas... também de chorar), e "copiou e colou" várias outras (como as supra citadas) dando um ar deveras interessante às canções; diria até "reescrevendo" clássicos inquebrantáveis, enfatizando texturas até então escondidas pela produção original (seja pela técnica de gravação da época, seja pelo trabalho conjunto da banda na época de sua produção) que realçaram alguns momentos (incrível ouvir algumas viradas de Ringo que nunca consegui percebi... pequenos detalhes que o fazem um baterista econômico e eficientíssimo). Os remixes, em si, não são aquela coisa de botar uma batida nova, inventar sons loucos de loops e ecos/corais bagaceiros. Esse era meu medo. Tudo foi aproveitado dos takes originais, o que dá um certo toque de "legitimidade" ao projeto como um todo.

CLARO, não substitui, tampouco "melhora" o trabalho atemporal do quarteto, mas dá uma visão diferente feita para um evento específico (no caso, uma apresentação do Cirque du Soleil inspirado nas faixas dos Bítous). Nada mais.

Válido o esforço artístico e de bom gosto nas faixas. Coisa fina!

Obs.: A Day In The Life (os vocais de Lennon nessa música são de outro mundo) está lá! Para mim, uma das músicas mais inspiradas de todos os tempos... musicalmente emocionante sob todos os aspectos!!!